Título: Unmentionables - A Brief History Of Underwear
Autor: Elaine Benson & John Esten
Editor: Simon & Schuster
ISBN: 0-684-82266-0
Este livro relata-nos história da roupa interior ao longo dos tempos. Fazer uma história da roupa interior não é um trabalho fácil. Os materiais que nos são dados a observar na maioria das vezes mostram-nos apenas a roupa exterior, deixando-nos entregues a especulações quanto ao que se encontra debaixo dessa. No entanto, com base em alguns objectos (de olaria, por exemplo) e em peças de arte como pinturas, esculturas e textos vão-se firmando ideias e factos.

Ainda que oculta na maioria do tempo, a roupa interior é aqui analisada, quer no seu papel, quer na estética, através da observação das diferenças através dos tempos e dos sexos.
Do Egipto à Grécia, passando por Roma algo em comum nos é revelado: quanto mais elevado o estrato social mais roupa era usada. Os escravos e membros do povo vestiam-se rudimentarmente enquanto que os mais ricos possuíam diversas peças de roupa que conjugavam de forma a construir o ideal feminino/masculino da época.

É somente no século XX a roupa interior é pensada e desenhada como tal. A revelação. A transformação da roupa interior em acessório ou objecto sensual, acontece após uma época vitoriana onde o uso da mesma se torna obrigatório. Dessa moralidade resta-nos em muitas culturas os nomes meio infantis dados às diversas peças. Ainda que em português sejamos pobres na diversidade de nomes dados à roupa interior (a cuecas chamamos pouco mais do que cuecas) e muitas das palavras tenham sido adoptadas de outras estrangeiras (soutien por exemplo) temos o exemplo brasileiro onde cuecas viram calcinhas. O inglês é rico nesse linguajar de criança: undies, panties, scanties, snuggies, teddys, etc.
Aos corpetes vulgarizados no século XIX é dedicado um capítulo. Uma peça essencial durante séculos é mais a ele que a qualquer outra peça de vestuário que se deve a imobilização da mulher com fins morais, culturais e estéticos. Metáfora de virtude o corpete era uma peça obrigatória na época vitoriana. As mulheres começavam a usá-lo na tenra idade dos 4 anos e eram conhecidas as supostas qualidades para a saúde do corpo! Era-lhe atribuído o dom de corrigir a postura das costas… e assim nasceu o negócio de corpetes de todo o género: corsetes redutores, corsetes de casamento franceses, corteses de maternidade, corsetes de Verão, corsetes de amamentação, corsetes de banho. E se inicialmente a estrutura destes era feita sobretudo à base de osso de baleia surgiram corsetes com estrutura de metal, corda e cana. Não é de admirar que na época Vitoriana as mulheres se queixassem imenso de cansaço após um dia. Muitas delas carregavam de 7 a 10 quilogramas de roupa com elas.

No capítulo “Aberração” a autora discorre acerca do conceito cultural vigente em como é visto como algo anormal a utilização de roupa interior feminina por parte de um homem e pelo contrário, uma mulher usando roupa interior masculina, já não ser visto da mesma forma.
Se a roupa interior feminina tem sofrido uma evolução constante, quer de formas, de tecidos, cores e papéis, a do homem tem estado em relativo marasmo há séculos. Não será natural que um homem se aborreça de usar sempre o mesmo feitio de cuecas? E as mesmas cores, sem grandes floreados, rendas, adereços? Como uma possível resposta temos o surgimento das Drag Queens, dos travestis e dos cross-dresser. Uma forma de estar masculina, muitas das vezes heterossexual, que imita a feminina no seu exterior. E se há os que copiam a figura feminina na íntegra, aliando a roupa interior a uma selecção de vestuário, maquilhagem, perucas e acessórios, há os que se vestem de uma forma mais natural e menos estereotípica, na procura de alguma sensualidade ou simbolismo, alguns deles não querendo ser outra coisa que não um homem com roupa feminina.
Um livro rico em fotografias e extremamente interessante já que retrata também, ao contrário da maioria, a roupa interior masculina.
Não querendo ser um tratado de história não foi estruturado cronologicamente ou por tipo de peça de roupa o que pode desagradar a quem queira algo mais factual.