sábado, 13 de junho de 2009

Disciple Maître – Joel-Peter Witkin



Título: Disciple Maître – Joel-Peter Witkin
Autor: Joel-Peter Witkin/Pierre Borhan
Editor: Editions Marval
ISBN: 2-86234-291-2


A morte (…) é um dos apetites da infância, quase mais forte que o apetite das bonecas ou o de brincar com os órgãos genitais.
In “O Génio e a Deusa” - Aldous Huxley


Woman Once a Bird, Los Angeles 1990 ******* Man Ray - Le violin d'Ingres, 1924

Jeremy Bentham (1748-1832) foi um filósofo inglês do século XVIII, que foi notabilizado pelos seus trabalhos de economia política; não obstante uma outra das suas propostas eventualmente menos conhecida foi absolutamente radical. Este pensador preconizava que os cadáveres deveriam ser aproveitados como auto-ícones, permitindo apresentar a pessoa depois desta ter falecido, e constituir um mobiliário urbano esteticamente válido. Tendo a posteridade resistido a esta ideia, fez ainda assim justiça a Bentham, que foi devidamente embalsamado, conforme disposições testamentárias, ocupando ainda hoje um armário no Oxford College que ajudou a fundar.

Humor and Fear, Novo Mexico 1998 ********* Horst - Mainbocher Corset, Paris 1939

Naturalmente a morte e a decomposição/transformação, foi sempre um tema tão incontornável como necessário, enquanto pretexto para uma reflexão colectiva e individual que tenta entender a eterna circularidade da morte e da vida. Os trabalhos de Witkin apresentam um contributo notável para esta reflexão, ao utilizar cadáveres (de seres humanos e animais), concebendo as criaturas mais fantásticas, chegando a reconstruir os mesmos pela mutilação e combinação. A partir desta noção teríamos um pretexto para uma utilização sensacionalista, que Witkin felizmente recusa.


The eggs of My Amnesia, Roma 1996 ******** Kimura Kenichi - Sem título, 1945

Ars Moriendi a quem pertence um cadáver senão à eternidade, sendo a distância entre a vida e a morte dificilmente mensurável, cada fotografia deste livro faz um comentário a diversas fotografias de diversos autores e estilos. Maitre para os modelos vivos; Disciple para os outros.

Canova's Venus 1982

A generosidade de um cadáver é infinita assim como a sua bendita passividade. Enquanto a carne e a película aguardam pelas cinzas niilistas, ocorre-nos o aforismo de Lavoisier: Na natureza nada se perde tudo se transforma. Meditemos entretanto à saída deste livro nas diversas epígrafes presentes nos ossários tão ao gosto barroco. Vivos um dia fomos, mortos como estes ossos um dia serás.

Satiro 1992

Os trabalhos de fotógrafos como Charles Negre, Walker Evans, Horst e Cartier-Bresson e de quadros como “Las Meninas” de de Diego Velásquez, “O nascimento de Vénus” de Boticelli, serviram de inspiração para Witkin. O texto do livro relata as relações entre as obras dos dois artistas, o inspirador e o inspirado.

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